quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A nostalgia por outros tempos


photo by ac


Por norma, sou contra a retórica nostálgica, que leva a que se invoque a "bondade de outros tempos" e do "antigamente é que era bom".
Trata-se de uma postura - muito injusta, para aqueles que hoje assumem responsabilidades e que bastante e com muita dificuldade lutam por conseguir algo. Se por um lado, é um "lavar de mãos" e uma desresponsabilização, por outro, trata-se de uma manifesta ignorância com a realidade actual e o nível de exigências - quer académicas, quer de condições de vida, quer de disponibilidade e por ai fora...
Nas redes sociais, as pessoas aproveitam para interagir e reagir, em relação ao que foram os anos das décadas de 50/60/70, esquecendo-se que foram anos de grande confusão e complicação:
- guerra colonial;
- emigração forçada e muitas vezes clandestina;
- período de adaptação ao novo regime democrático;
- situações de baixo nível de vida e más condições.
Confunde-se "nostalgia de tempos de menino", com realidades que comparadas com as de hoje, não têm qualquer comparação - é frequente, alguêm dizer, que mais vale uma 4ª classe de antes que uma licenciatura hoje e eu pergunto e um detentor de uma 4ª classe de antes, sabe informática, sabe inglês, está adaptado às novas realidades...
Ainda nas redes sociais, uma senhora - recordando-se da Avenida da República em VRSAntónio, evoca o cheiro das fábricas, cavalos e mulas cargados e puxando o atum e outros peixes e ainda o Rio Guadiana pejado de barcos - rematando que nesses tempos todos tinham emprego...
O quadro é bonito - sem dúvida, mas e o resto ?
O que dizer da exploração salarial, das más condições de vida, da precária educação, as poucas oportunidades que existiam e a repressão.
Eis pois razões suficientes para que se considere que tudo tem o seu tempo, as épocas e as formas de estar devem ser vistas em função de datas concretas e tal é assim que pese embora toda a nostalgia, poucos seriam, os que nos dias de hoje, prescindiriam de certas comodidades dos tempos actuais.

É importante aprender com o passado, visando melhor gozar o presente e bem preparar o futuro.
Nostalgia sim para recordar e não para vivê-la.


António Cabrita
VRSA, 10/02/2011