O Natal pode ser visto de diferentes perspectivas e com várias nuances
pelo meio.
A da alegria, a da palhaçada, do consumo, das comezainas, dos postais
obrigatórios, das prendas de circunstância, e do politicamente correcto.
E há a outra, a da introspecção, quando olhamos com olhos de ver à nossa
volta, vemos a sorte que temos em ter nascido em Portugal. Somos uns
privilegiados, contudo é frequente a lamentação e considerarmos que a
nossa vida é uma infelicidade. Como está hoje um frio intenso, um
trânsito insuportável, lá temos de acordar cedo de novo e ir para o
trabalho, e o chefe que mais um ano não nos promoveu. Como estamos
calvos, cotas, grisalhos e barrigudos.
Muitas vezes esquecemos o privilégio que é estar vivo e ter uma vida
banal, viver num país e num continente onde a democracia e a paz são
actualmente uma realidade consolidada. Apesar de doer ir ao fundo das
coisas e sair do nosso espaço de conforto, vale a pena fazê-lo, nem que
seja uma vez por ano.
O que seria a nossa vida se tivesse-mos nascido em África? Provavelmente
seríamos mais uns como os 23 marroquinos que no passado dia 17 de
Dezembro chegaram à ilha da Culatra. Foi o primeiro grupo de emigrantes
ilegais que chegou a Portugal a fugir das péssimas condições de vida em
África e na esperança de encontrarem uma vida melhor na Europa. Alguma
vez um de nós parou para reflectir no desespero em que aquelas pessoas
estão para tomarem uma decisão tão radical como abandonar o seu país sem
qualquer garantia, e as privações e necessidades pelas quais passam nas
verdadeiras odisseias que empreendem rumo à Europa. Na TV assisti a um
filme que retratava a viagem de emigrantes da Ásia para Inglaterra, em
mais uma tentativa para entrarem na Europa, e a experiência da mesma é de
facto muito má.
Considero pois que é um privilégio viver em Portugal,
Boas Festas,
Jorge
Nota: este artigo é a colaboração de um familiar e amigo meu, a ele o meu obrigado.