quinta-feira, 16 de abril de 2009

A busca de alternativas, pode passar pelo atum ...



in Jornal do Algarve



A propósito do tema proponho a leitura do editorial do director do Jornal do Algarve - Dr. Fernando Reis.

"O atum, que foi rei no Sotavento Algarvio, particularmente nas águas de Tavira, onde era capturado, e em Vila Real de Santo António e Olhão, onde era cozido e enlatado, nas muitas fábricas que então existiam, começa, de novo, a erguer-se do túmulo onde o meteram o fim das armações e a posterior morte da indústria conserveira, e a mostrar todo o seu inegável potencial económico e gastronómico.

Sobre a história desta actividade, recomendamos a leitura dos livros de Neto Gomes e Alexandre Pires, das excelentes crónicas que Luigi Rolla tem vindo a publicar no nosso Jornal e o filme "O Labirinto do Atum", de João Romão. São memórias de um tempo que ainda conhecemos e que perdura, porque nada consegue apagar aquele cheiro a atum cozido que exala das chaminés das fábricas.

Mas para além da memória escrita, há um outro legado que tem contribuído para alimentar a ideia de que o atum ainda tem futuro. A tradição gastronómica que se mantém bem viva em Vila Real de Santo António e que a recém-criada Confraria do Atum quer projectar, nacional e internacionalmente. A anunciada confecção de uma estupeta gigante, de 500kg, para o “Guiness”, em Vila Real de Santo António, é um dos pontos altos da estratégia de promoção dessa rica e saudável gastronomia que tem por base o atum.

Nesta hora de exaltação do atum é justo que se refira o contributo de homens como a família Cardoso e o mestre Dâmaso, na preservação dessa tradição. Sem as suas fábricas – hoje só existem as Conservas Dâmaso – dificimente teria sido possível alimentar os menus gastronómicos que fazem parte do cardápio da restauração da cidade pombalina. Estupeta, muxama, ovas prensadas, espinheta, orelha, peles, mormos e tudo o que é possível aproveitar desse “porco” do mar - e é praticamente tudo – fazem ainda hoje as nossas delícias, graças ao labor desses mestres.

Se, economicamente, numa região muito dependente do turismo e num tempo de profunda crise, é importante diversificar os investimentos, mais importante, ainda, é apostar no ressurgimento de uma actividade tradicional, como é o atum. Não apenas na sua vertente gastronómica mas, principalmente, quando existe a vontade e a determinação em reactivar as antigas armações. Primeiro pela mão dos japoneses – já foi assim no passado com os gregos, os italianos e os catalães – e agora pela mão da Companhia de Pescarias do Algarve, que, com novos sócios, decidiu voltar a acreditar que é possível pescar de novo atum, na costa algarvia, com armações. "


in Jornal do Algarve, VRSA, 15/4/2009.